quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Aurora Boreal - Outubro de 2016 - Noites inacreditáveis

Era início do mês de outubro e os preparativos para a saída do Brasil eram os melhores possíveis. Na previsão de médio termo, tudo indicava tempo bom, poucas nuvens por toda a viagem. Muitas vezes isso muda com o passar dos dias mas prognósticos positivos são sempre animadores.

Seria nossa última saída da temporada de outono, época de clima ameno no Ártico. Falando em outono, sempre me perguntam por email ou pessoalmente qual é a melhor época para viajar em busca da aurora e a resposta é invariável. Depende... 

A radiação que forma a aurora boreal vêm do sol, independente se é primavera, verão ou inverno por aqui... O que vai variar entre viajar nos meses de outono ou inverno é o clima no termômetro e o visual da paisagem. 

Enquanto no inverno o clima é bem rigoroso, podendo ser até hostil, com muita neve e tudo branco, nos meses de outono, como este mês de outubro, não pegamos neve no chão, só nas montanhas, conseguimos ver a aurora sem grande sofrimento físico quanto ao frio, a vegetação fica colorida, as bétulas amarelas. 

Agora, quanto à aurora, tanto faz, vai depender da sorte, da radiação que estará chegando à Terra naquele período e de nossa pesquisa para conseguir fugir direitinho das nuvens quando preciso e possível. Só não dá para ver a aurora no Ártico do meio de abril até o fim de agosto, mas nada a ver com a radiação vinda do sol. 

Essa continua, auroras permanecem se formando, só não podem ser vistas  por que o sol não se põe completamente. A radiação do sol chega na Terra, a aurora fica lá no céu mas a pessoa não vê apenas por causa da claridade 24 horas. Por esse motivo só viajamos de setembro até março, quando volta a anoitecer normalmente.

Assim partimos para a última viagem antes da chegada do inverno e do frio extremo. Grupo grande, como sempre com participantes de vários estados brasileiros, uma família inteira de médicos do nordeste muito gente boa, como normalmente é o pessoal daquelas terras. No meu íntimo, tudo tranquilo pois na maioria das vezes viajo meio preocupado com o tempo, com as nuvens, mas aquele grupo aparentemente ia dar menos trabalho quanto a isso.

Ao voarmos de Oslo para as ilhas Loføten, já no oceano Ártico, o visual era incrível. Na conexão na cidade chamada Bodø entramos no pequeno bimotor que nos levaria até o pequeno aeroporto da capital da Ilha, Svolvaer, praticamente só com nosso grupo dentro da aeronave. Da janela a vista "enchia" os olhos. Esse voo é sempre surreal mas com tempo todo aberto sem dúvida é indescritível. Voando baixo, próximo aos cumes das montanhas íngremes, sob o mar da cor do Caribe entre fiordes, escarpas e casinhas coloridas, parecia um sonho. 

Nesse clima pousamos e desembarcamos para dar início a nossa grande viagem.
Abaixo foto de nosso grupo assim que pousamos em Svolvaer no bimotor:


Como de praxe fizemos o traslado do grupo, as bagagens foram levadas pelo nosso apoio em terra. Quase em frente ao nosso hotel fica o melhor restaurante da cidadezinha cujo nome é BACALAU e para lá nos dirigimos para comer o famoso pescado em seu lugar original, fresquinho, direto do mar da Noruega que banhava o cais do restaurante. Nas pesquisas do dia, já sabia que teríamos aurora boreal no céu, havia radiação suficiente para um show bem legal e só bastava torcer para que a quase imprevisível cobertura de nuvens das Ilhas Loføten não pregassem alguma surpresa.

Como fazemos todas as noites, saímos por volta das 19 horas com destino a uma praia que gosto bastante por vários motivos. É afastada das luzes da cidade, mas não muito distante do hotel, é virada para o norte, quase não passa ninguém, é plana e bastante confortável para ficar com o grupo. Foi só sair das luzes artificiais, chegar no escuro, desligar o farol e pronto, a aurora estava lá e era apenas a primeira noite.

Para melhorar o lugar ainda era mágico, um monte de ovelhas pastando saíram assustadas com as luzes das vans, mal se importando que sobre elas estivessem dançando as luzes da aurora boreal, algo tão raro e incrível para nós seres humanos. Lembro que a cena de ovelhas com a aurora boreal foi tão inusitada que minha primeira reação foi correr para tentar fazer um quadro fotográfico de aurora + praia + ovelha....rsrsrs. Quase esqueci que na van tinha um monte de gente que antes de qualquer coisa precisava ver a primeira aurora da vida delas.

Como sempre faço e, com ainda mais contundência nos casos da primeira aurora do grupo, voltei pro carro com a câmera já gritando:

"Desce galera!"  "Desce rápido!" "Agora, agora..."

A Aurora já estava no céu, lindona, para todos verem e quando isso acontece confesso que sempre fico meio empolgado demais....rsrs

Van parada sobre as luzes da aurora na beira mar:


Como brasileiros que somos, as reações com todos os grupos são quase sempre as mesmas, principalmente nas primeiras impressões. Alguns gritos e palavrões, o nome de Deus é gritado aqui e ali, a sensação é realmente de choque!  A primeira vez que uma pessoa - que sonha um dia ver algo como as raras luzes da aurora boreal - consegue atingir esse objetivo, sente como se um grande sonho tivesse sido alcançado de repente, de forma palpável,  naquele minuto. É muito legal.....

Lembro do pessoal gritando:

"Daniel, o que é isso???"  rsrsrs

Era isso mesmo, a aurora boreal rapidinho na primeira noite.

Nessas horas penso nesse trabalho, nessa atividade, e no prazer gigante que ela traz não só pelo inusitado e pela aventura que eu tanto gosto. Mas também  pela enorme gratificação que acabo sentindo em compartilhar meu sonho com outras pessoas parecidas, em dividir esses momentos com eles, em viver tanta coisa mágica e positiva. Momento que no fim das contas marcam a mim e a todos, para sempre!

Naquela noite ficamos ali, com temperaturas positivas, sem sofrer com frio, vans paradas na beira da praia no oceano Ártico, as luzes sobre o mar formando uma espécie de cortina balançando ao vento que ficava forte, fraca,  sumia, voltava.... O grupo que tinha acabado de se juntar na véspera em Oslo já começava a se tornar quase uma família, unidos pela experiência ímpar que estávamos tendo e que iríamos levar dali para frente. Mas a viagem só estava começando!

Foto daquele momento:



Quando a aurora boreal aparece rápido, o clima durante o resto da viagem fica ainda mais leve, mais tranquilo, a ansiedade e "medo de não ver nada", algo que - ainda bem -  nunca me aconteceu, vai embora e tudo vira festa.

No dia seguinte, ainda com tempo bom, fomos ao tradicional passeio ao museu viking em Børg e vilarejo pesqueiro de Hennigsvaer. Ao escurecer o tempo continuava estrelado e a radiação formadora da aurora  ainda mais forte. Decidi mudar de lugar, ir para outra região afastada, também virada pro norte e lá tivemos nosso segundo dia de aurora boreal forte.

Nessa segunda noite paramos a van, ligamos a caixa de som sem fio que sempre levo junto e a aurora formava uma espécie de corda se retorcendo de um lado ao outro do céu, como uma cobra viva que na parte superior de nossas cabeças se abria como em um leque em alta velocidade. Fica difícil descrever com palavras, segue o vídeo:


Obs: este vídeo assim como muitos outros também se encontram aqui neste site na Aba VÍDEOS no link:


Algumas fotos da mesma noite:



Na manhã seguinte, todos felizes e satisfeitos com os dias anteriores, era hora de fazermos o passeio até o sul das Ilhas Loføten. Terra dos antigos Vikings e da pesca do bacalhau, as Ilhas são  interligadas por pontes e túneis por baixo dagua em cerca de 150 km de norte ao sul. Por todo esse nosso trajeto podemos, sempre, contemplar as enormes montanhas e paredões saindo do mar entre os fiordes de águas transparentes com casinhas coloridas dos pescadores tipo palafita, até chegarmos ao ultimo vilarejo chamado Reine, a quem gosto de apelidar carinhosamente de "Terra Média" por me fazer lembrar do filme "Senhor dos Anéis". Essa região já foi considerada pela revista National Geographic como uma das mais belas do mundo.

Abaixo foto do grupo em Reine ("Terra Média")



Assim como no mês anterior, setembro, saímos da Ilha Loføten após o terceiro dia sem usar o navio Hurtigruten em direção à Tromsø, como normalmente fazemos em todos os nossos grupos. Apenas nos grupos dos meses de outono (setembro e outubro) de 2016 nós modificamos o roteiro e, ao invés de Tromsø, optamos por deixarmos as Ilhas pelas pontes, por via terrestre, até a região da cidade de Narvik. Lá, poderíamos conhecer a região do Parque Nacional de Abisko, na Suécia, pouco além da fronteira com o município de Narvik que fica na Noruega. A escolha não foi em vão, Abisko possui um micro clima especial, o tempo quase nunca fecha por lá, possui um belo lago chamado Thorn, e não tem qualquer cidade e poluição de luz por perto. Ou seja, é um dos melhores lugares do mundo para se observar a aurora e era por isso que estávamos experimentando essa alteração no roteiro.

Após uma viagem de meio dia contornando os fiordes da parte norte das Ilhas Loføten enfim chegamos à Narvik. Cidade que, como em toda Noruega, embora pequena possui completa estrutura, bons hotéis e um passado histórico. Narvik foi palco de diversas batalhas na segunda guerra quando Hitler dominou a região para transportar o minério sueco que alimentava a maquina de guerra nazista, e seguia para a Alemanha através dos portos da Noruega dominada.  

Ao chegar no hotel o tempo não estava muito bom, tinha bastante nuvem no céu mas sabíamos que o dia seguinte seria de tempo aberto e cheio de atividades. Assim, decidimos dormir, descansar para no dia seguinte sairmos cedo para o parque sueco a fim de  explorarmos a região e tentar ver a aurora quando voltássemos a noite de lá.

Ao acordarmos no dia seguinte era só alegria no café da manhã, céu azul, lindo, tudo colorido, a radiação que deveria formar a aurora boreal estava prevista para ser forte, o tempo deveria se manter aberto, estávamos a 60 km de Abisko, o dia tinha tudo para ser inesquecível, e foi!

Pegamos a estrada e 40 minutos depois chegamos a Riksgransen, fronteira com a Suécia e que nesta região da Escandinávia muda não só no mapa, mas também nas características geográficas do local. Acabam-se os  fiordes e montanhas íngremes, típicos de todo o território acidentado da Noruega e começam os planaltos cheios de pinheiros e lagos.

Chegamos ao Parque Nacional de Abisko, local que só havia estado duas vezes, a primeira filmando um episódio pro Canal Off em que fizemos uma árdua travessia pela tundra e outra com o grupo do mês anterior, ambas com tempo fechado. Dessa vez o tempo estava perfeito, sem uma nuvem sequer no céu e o sol, baixo no horizonte, típico das regiões polares, refletia no imenso e isolado lago Thorn. Passeamos pelo cânion do parque nacional, uma cachoeira com rio caudaloso límpido e transparente correndo entre as paredes de rocha, uma das maravilhas naturais da Suécia.


                                 Grupo no marco do Parque Nacional de Abisko


No fim de tarde resolvemos improvisar e fazer um comes e bebes, tipo queijos e vinhos que havíamos comprado no caminho. Achamos algumas lenhas,  fizemos uma fogueira com uma espécie de grelha e churrasqueira e começamos a comemorar aquele dia especial enquanto esperávamos o sol se por.  Esse tipo de improvisação, muito comum em nossas viagens,  é uma característica que nos diferencia dos pacotes de viagem padrão, onde nos permitimos mudar as atividades pré estabelecidas e amarradas que seriam lugar comum em um roteiro engessado.  De forma livre é sempre muito melhor!



Algum tempo depois começou a escurecer e eu, já sabendo da previsão da aurora, comecei a ficar inquieto, mas calado para não gerar expectativa na galera. Bastou ficar um pouquinho escuro e pronto, logo surgiu o arco da aurora boreal, ainda antes de escurecer totalmente, bem à frente de nós, em cima da fogueira, sem qualquer trabalho. Inacreditável.
Lembro de avisar ao pessoal que ela já estava lá no céu, ainda meio apagada por não ter escurecido totalmente e a empolgação foi total. Esperei mais um pouco, andei alguns metros e resolvi fazer essa foto abaixo para registrar o momento.


Eu adoro essa foto, não só por ter tido uma certa dificuldade em fazê-la ao enquadrar as pessoas, fogo e a aurora sem estourar no mesmo click, mas por que a vibração positiva do grupo neste momento realmente estava no máximo!  Lembro ainda com muito carinho desse fim de tarde, são momentos como esse que marcam a memória de nossas vidas.
Como diz o velho ditado:

"A vida não é feita dos momentos em que você respirou, mas sim dos momentos em que você perdeu o fôlego".

Logo que escureceu de vez a aurora veio com tudo, o pessoal se espalhou andando pelas trilhas e beira do cânion em uma pequena aventura, como se estivéssemos em um parque de diversão para adultos. Uns foram pro carro pegar câmera e mais casaco, outros saíram olhando pro céu, por cerca de meia hora andamos por ali. Logo depois nos reunimos e propus que entrássemos no carro e nos isolássemos para um local bem ermo, longe da fogueira, e próximo ao lago para vermos a aurora refletida na água.


No pequeno trajeto que seriam de 15 minutos tivemos que parar as vans umas 2 vezes de tão forte que a aurora estava. Nesses momentos, enquanto vemos a aurora pelo vidro do carro, é sempre comum os gritos para pararmos um pouco para não perdermos um segundo sequer do show. Fica uma loucura dentro da van, é muito engraçado!

Finalmente paramos na beira do lago Thorn, uma das jóias da Lapônia sueca, e a aurora descrevia um arco perfeito refletindo na água, fotos abaixo:


Ficamos horas por ali, observando os movimentos das luzes como cortinas ao vento, confraternizando, tirando um montão de fotos. Em determinado momento a aurora saiu de sobre o lago e ficou mais forte, como um jato enorme de luz bem atrás de um morrinho que ficava à nossa direita, ao lado da beira do lago. Olhei o visual, os galhos das bétulas sobre o tal barranco e pensei que ali devia estar com um visual incrível para fotos. Na empolgação de sempre, chamei o pessoal e uma parte do grupo me seguiu, subindo no meio dos gravetos de forma atabalhoada e logo chegamos no topo. Ali de cima podíamos ver outra parte do lago, com 2 arcos de aurora, um sobre o outro, muito fortes, em contraste  com a silhueta dos muitos galhos secos das árvores que haviam acabado de perder suas folhas naquele mês. Ali pude fazer várias composições diferentes que, olhando depois, gostei muito, e acabaram como uma das minhas favoritas como essas abaixo:


A característica geográfica daquele lugar especial, ainda mais sendo minha primeira vez que via as luzes ali, marcou profundamente à todos nós, ainda mais com aquela .e depois da  "overdose" de aurora boreal, algo tão bom quando acontece.  Decidimos voltar para nosso hotel em Narvik e por todo o caminho a aurora permanecia dançando pelo parabrisa, até atravessarmos a fronteira de volta a Noruega quando o tempo fechou, finalizando aquela noite que nunca mais iremos esquecer.

Depois de 2 noites em Narvik viajamos de van por 5 horas até nosso tradicional chalé em kilpisjarvi, Lapônia Finlandêsa. Meio que sem pensar nisso, de fato aquele grupo estava entrando no terceiro país em apenas uma semana de viagem. Noruega, Suécia e agora o chalé nos confins do extremo norte da Finlândia. Poderíamos chamar esse roteiro de outubro de aurora boreal na tríplice fronteira pois, como irei narrar a seguir, a aurora boreal não nos deixava. Na verdade as luzes que nos caçavam e não o contrário.

O tempo continuava aberto também em kilpisjarvi e era a noite onde iríamos fazer a já tradicional confraternização, ouvindo musica, comendo, bebendo, nos banhando na sauna, no lago local e na jacuzzi coletiva. O sol se pôs, as estrelas apareceram e a aurora boreal "explodiu" novamente no céu, bem em cima de nós que não precisamos sequer sair dali.
Por muitos anos levo meus grupos a esses chalés maravilhosos e com toda estrutura em Kilpisjarvi mas o Spa com sauna coletiva, cozinha, jacuzzi grande e mergulho no lago havia sido inaugurado recentemente. Nunca havia tido a oportunidade de ver a aurora boreal com um grupo ali, de sunga, bermuda, maiô, biquíni, dentro de uma jacuzzi tomando vinho, sem passar nenhum aperto com o frio. Aquela era a primeira vez e o grupo de outubro, mais uma vez, se mostrou com muita sorte e estrela.

Abaixo as fotos do pessoal na jacuzzi enquanto a aurora boreal dançava no céu:



Nessa noite fizemos um filme do ocorrido, acho que pela primeira vez no mundo alguém filmou uma aurora como aquela, com um equipamento novo como aquele capaz de filmar as luzes em tempo real, e com o agravante de ter um monte de gente de roupas de banho e festejando como se fosse a coisa mais normal do mundo ver a aurora naquelas condições. Tudo muito surreal! A cada dia que passava as noites se tornavam ainda mais surpreendentes!

Lembro que observei a cena inusitada com a galera molhada e observando a aurora com vinho na mão, outros dentro da água, aquele monte de brasileiros barulhentos, e imaginei que aquilo era muito louco.  Pensei, "isso é matéria para JORNAL NACIONAL com William Bonner falando".  Por mais que eu já tivesse visto aurora boreal de tudo quanto era jeito antes, aquilo já era demais. Aí gritei pro meu sócio-primo-parceiro e cinegrafista chamado Jonathas Japor.

Trága a filmadora correndo!

Ele chegou, combinei que faria uma breve apresentação e que depois ele deveria jogar a lente em direção às luzes. Tudo no improviso, e rapidinho, como sempre acontece em momentos assim.

Comecei o bla, bla, bla de que estávamos ali na Lapônia vendo a aurora e, de repente, olho para trás enquanto falava e a aurora pega força do nada, começa a se mexer freneticamente e a filmagem acabou do jeito que vocês podem observar aí embaixo. As luzes pareciam descer, quase tocando na gente, balançando, vibrando e quando fica assim,  nem em desenhos da Disney se compara.


Obs: este vídeo assim como muitos outros também se encontram aqui neste site na Aba VÍDEOS no link: http://www.geotrip.com.br/imagens/

ou em nosso canal do youtube

https://www.youtube.com/channel/UCdWxTu5upDIbBf8e3-RmdoQ/videos

Após 2 noites no nosso querido e isolado chalé no meio do nada retornamos em outra viagem de algumas horas até Narvik, onde finalizaríamos a inesquecível viagem descansando no hotel antes de voltar ao Brasil. Mas, como havia dito, a aurora estava nos caçando, não nos deixava de forma alguma e ao chegar ao hotel não foi possível dormir cedo e descansar, novamente.

Eram cerca de 8 da noite quando me preparava para dormir, descansar da estrada e voar no dia seguinte quando toca o WhatsApp do grupo...

"Daniel, corre, a aurora ta aqui fora, dá pra ver da janela do hotel e está muito forte".

Eu não podia acreditar, estávamos no centro de Narvik, em um prédio de quase 20 andares, cheio de luzes da cidade para atrapalhar a visão do céu, mas a aurora tava tão forte que mesmo assim o show continuava até mesmo pela janela do hotel.

Parte do grupo desceu para ficar vendo de um terreno meio escuro, um estacionamento ao lado do hotel. Outra parte do grupo subiu pro bar do terraço. Enfim, mais uma vez sem esforço a aurora boreal vinha nos visitar de forma inesperada e pouco comum. Que viagem era aquela????

Abaixo duas fotos do amigo Joel Pinheiro que nos acompanhou na viagem junto a sua família e que mostram de forma clara o quão absurdo foi poder observar uma aurora tão bonita e forte, sem sair do iluminado centro de cidade.

      Aurora Boreal bem em cima do nosso hotel no centro da cidade


                                           Entrada na portaria do nosso hotel
Assim ocorreu nossa ultima noite de viagem, um grupo maravilhoso, uma trip inesquecível e cheia de fatos inusitados. Tenho muito orgulho de ter iniciado essa atividade no Brasil, de ter resultados incríveis e inigualáveis em relação a visualização da aurora boreal por brasileiros em todas as dezenas de grupos que tive a oportunidade de acompanhar. O aproveitamento de 100% no avisamento das luzes em todos os nossos grupos até hoje é algo que nos dá enorme gratificação mas uma coisa é certa - alguns grupos como esse de outubro ficam marcados por terem tido um algo mais que as vezes acontece por sorte ou iniciativa do acaso.

Escrevendo essas palavras deixo um grande abraço para todos os participantes daquela verdadeira epopéia de outubro, vocês fizeram parte de um grande momento da minha vida e tenho certeza de que foi também um marco na de todos vocês.

Abraço

Daniel Japor

quinta-feira, 21 de maio de 2015

AURORA BOREAL NA NOITE POLAR - DEZEMBRO 2014

No mês de dezembro passado não tínhamos nenhum grupo organizado para embarcar....

Embora eu já tivesse tido a experiência de buscar a aurora boreal em uma época sem a luz do sol em 2006, estava sozinho, nunca tinha levado qualquer grupo nesta época, mesmo com tantos anos levando pessoas em busca das luzes.


Tínhamos acabado de viajar com 2 grupos de outono, com muita aurora em ambos, como descrevi nos 2 posts passados aqui no blog. A procura de pessoas querendo viajar em fevereiro e março também era enorme, estávamos lotados.... Mas, para dezembro, realmente não havia nada planejado....



Eu e a aurora boreal em dezembro

Por outro lado o Gustavo, de Brasília, me mandava email toda semana perguntando sobre a possibilidade de embarcarmos naquele mês, mesmo sem a luz do sol, pois era sua única data disponível. Após uma longa troca de emails, concordei em fazer um roteiro diferente, mais curto, sem a Ilha de Svalbard que fica 24 horas escura nesta época, mas com uma semana buscando as luzes em Tromso.  

Eu, Gustavo, a Daniela Magalhães, e família embarcamos em um pequeno grupo, totalmente particular, outra novidade para mim. 

A região de Tromso, no norte da Noruega, fica sem a presença do sol de 27 de novembro até o dia 15 de janeiro, ou seja, quase 2 meses sem aparecer sobre o horizonte. Iríamos chegar na cidade bem no meio deste período de "noite polar".



Noite polar no norte da Noruega

A "noite polar" em Tromso, fotos acima e abaixo,  na verdade, é também chamada de "noite polar azul" por seus moradores. Isso se dá por que, embora o sol não apareça, ele fica um pouco abaixo da linha do horizonte de 10 da manhã até cerca de 2 da tarde,  formando uma penumbra surreal e fantástica, como luz negra de boate, deixando a neve fluorescente.

A luz fluorescente sobre Tromso

Ao contrário da Ilha de Svalbard que nessa época fica um breu, 24 horas, em Tromso pode-se ver a paisagem, as montanhas e fiordes por algumas horas, mesmo sem vermos o sol,  como se observa nessas fotos.

Em uma semana buscando a aurora boreal na região de Tromso e Kilpisjarvi, norte da Finlândia, pudemos vê-la por 5 noites. Mais um sucesso absurdo em matéria de visualização, como aconteceu por toda a temporada.

Logo na primeira noite em 16 de dezembro que, ao mesmo tempo era o dia do meu aniversário, ela apareceu para nós. Foi um presentão e uma noite inesquecível.

 Eu e minha aurora boreal de aniversário

No dia em que estávamos isolados no chalé da Finlândia com o tempo completamente fechado, estudei a radiação que chegava na Terra e percebi que veríamos uma grande aurora boreal caso conseguíssemos tempo aberto, sem nuvens.



índice Bz, outra variante que nos ajuda a prever a aurora, estava para o sul, mostrando grande atração eletromagnética. Eu precisava achar tempo aberto de qualquer forma e, segundo a pesquisa, talvez encontrasse uma janela de céu estrelado cerca de 80 km dali...

Saímos do chalé em direção à Skibotn, borda com a Noruega, com uma nevasca caindo sobre a estrada, dificultando dirigir mesmo em baixíssima velocidade...


Após cerca de 1 hora na estrada o céu começou a se abrir,  exatamente como esperado, e conseguimos achar uma espécie de buraco nas nuvens, mais uma vez.


Foi uma noite fantástica, entre os pinheiros no alto de uma colina,  no meio do nada... 

Abaixo algumas fotos e um video, meus e da Daniela Magalhães que, mesmo em sua primeira viagem em busca da aurora, conseguiu tirar excelentes fotos.



Mais algumas fotos:



  Aurora sobre o vilarejo de Grtofjord

Viajar em dezembro e ficar uma semana sem ver a luz do sol foi uma grande experiência e nos mostrou que cada mês, de setembro à março, pode ser excelente para vermos as luzes, cada um com sua peculiaridade. A noite polar é linda, traz um sentimento de paz e isolamento, é muito diferente de tudo...




Obrigado por nos acompanhar, em breve atualizo o Blog com as viagens seguintes de fevereiro e março. Para quem tiver interesse em embarcar conosco neste roteiro e trabalho pioneiros em nosso país, por favor mandar um email para contatogeotrip@gmail.com

Conheça nosso site: www.geotrip.com.br

Abs

Daniel Japor

sexta-feira, 8 de maio de 2015

AURORA BOREAL EM TODOS OS DIAS DA VIAGEM - OUTUBRO

 Olá pessoal, tivemos diversos grupos em sequência neste outono/inverno - de setembro até março.  Acabei fazendo seis grandes viagens no total, com muita correria, por esse motivo acabei não atualizando o Blog como pretendia.

Tivemos nesta temporada - mais uma vez - resultados espetaculares em relação a visualização da aurora boreal, mostrando-nos que nossa experiência acumulada, ano a ano, viagem a viagem, tem nos ajudado muito nesta missão.

O resultado de nossa viagem do mês de outubro foi o mais incrível  entre todas as nossas dezenas de grupos até hoje.  Em 9 noites no Ártico pudemos ver a aurora boreal todos os dias, sem faltar nenhum, algo muito raro, dificílimo de acontecer. Ainda mais se levarmos em conta que em 2 dessas 9 noites tivemos a radiação formadora da aurora boreal em níveis extremos, com o campo magnético da Terra carregado de energia e auroras inacreditáveis.

Outro detalhe que tornou esta viagem única foi a presença da Malu, uma menina que tinha acabado de fazer 2 aninhos, nossa primeira criança buscando a aurora desde que começamos neste trabalho há tantos anos.  Quanta sorte a da Malu....

Espero poder levar meu filho Theo, de 5 anos, em setembro deste ano. Se ele tiver metade da sorte da Malu, ficarei muito feliz!!

Na foto abaixo, nossa mini caçadora de auroras boreais com o pai.



Nesta outra vemos a Malu com os pais, comigo e uma baita aurora atrás:



Já na primeira noite, chegamos na cidade de Tromso com o tempo completamente fechado. Após algumas pesquisas pude perceber que se dirigisse uns 150 km para o sul, talvez encontrasse uma janela de tempo aberto. Assim fizemos e deu certo, logo na primeira noite encontramos a aurora cheia de energia, como mostra a foto abaixo do amigo Alexandre Manhães que já havia viajado conosco em outra ocasião e decidiu voltar.



Continuamos vendo a aurora boreal todos os dias, sempre buscando fugir das nuvens.

Na foto abaixo se pode ver parte de nosso grupo de 16 brasileiros, mais a Malu, chegando na Finlândia com o tempo completamente fechado. Neste mesmo dia ele acabou melhorando, as nuvens foram embora às 8 da noite e a aurora apareceu com força total...



 Nosso chalé em Kilpisjarvi, norte da Finlândia antes de escurecer...


O mesmo lugar algumas horas depois, com o tempo aberto e uma linda aurora boreal sobre nosso chalé.  :)


Na foto abaixo eu apareço bem pequeno fotografando a aurora em cima do gelo de um lago congelado. Esse ano o frio chegou cedo....



A aurora sobre a estrada que liga o norte da Finlândia ao norte da Noruega. Conhecida também como rota da aurora boreal.



Abaixo o amigo Davi, pai da Malu, na noite onde passamos horas isolados na estrada mágica sem que víssemos um carro sequer.




Aurora Boreal sobre o lago Kilpisjarvi, Finlândia.



Parte de nosso grupo contemplando as luzes em uma noite inesquecível para todos:



Estrada Mágica, fria, isolada, silenciosa mas cheia de luzes no céu...




Lago congelado abaixo:




Quando a aurora boreal se forma bem acima no céu, chama-se aurora corona, ou coroa da aurora. Sempre que vemos a aurora sobre nossas cabeças ela dança e se movimenta mais rápido. Se estiver intensa e forte como esse dia o visual é incrível. Fica muito difícil encontrar palavras para descrever essa explosão de luz que balançou sobre nós...









                                                      Abaixo, eu e a aurora boreal... :)


Em nosso ultimo dia de viagem em Tromso, antes de partirmos para a Ilha de Svalbard, tivemos outra noite fantástica, a segunda com a aurora extrema.  Por horas as luzes dançaram sobre a praia no oceano ártico, acabei tirando centenas de fotos e fazendo até um filme em timelapse, abaixo:

BASTA CLICAR PARA ABRIR O FILME....


Muito cansados após horas desfrutando das luzes,  decidimos ir embora com a aurora ainda no céu, estávamos satisfeitos e muito cansados. No caminho de volta para o hotel, eu dirigia vendo as luzes do lado de fora do parabrisa quando de repente algo me chocou.  Uma luz de aurora boreal surgiu tão forte, tão nítida, que freei o micro ônibus imediatamente. Não dava para perder um segundo...

Paramos e saltamos em meio à uma lombada da estrada,  não dava tempo de procurar um local normal para estacionar.... Descemos correndo, eu gritava para esquecerem as fotos, os tripés e saíssem logo para que aproveitássemos aquele momento impressionante.

Uma espécie de tubo gigante de luz forte em 3 cores, tão nítido que parecia ser rígido e com textura, rodava desde o horizonte no oceano até o outro lado da montanha ao longe. Como um cabo gigante de teleférico em movimento, ou algo parecido, rodando, com as 3 cores em forma de corrente, com seus elos de luz perfeitos... Assustador!!!

Mesmo com tantos anos podendo ver a aurora boreal, tendo as mais variadas experiências, eu nunca havia visto nada parecido!!  Não tiramos foto deste momento extremo que durou cerca de 10 minutos mas guardamos no coração.

Abaixo outras fotos do Alexandre, na mesma noite, mostrando a aurora bem em cima de nossas cabeças...






Aurora sobre o oceano Ártico:




A imagem abaixo sintetiza um pouco o que são nossas viagens e nossos grupos.  Momento de felicidade e realização em volta da fogueira.








É isso pessoal, de forma resumida espero ter passado um pouco de nossa experiência na viagem de outubro e em breve irei atualizar o Blog com mais fotos e relatos das viagens seguintes de dezembro, janeiro, fevereiro, março....

Para quem tiver interesse em participar de nossos grupos de setembro até março, todos os anos, basta mandar um email para:

contatogeotrip@gmail.com

Um abraço

Daniel Japor